Lançado no fim do mês de agosto, a segunda edição do livro “Mulheres Pela Água” reúne diversos depoimentos de mulheres que atuam em prol da gestão de recursos hídricos por todo o Brasil. A intenção da publicação é dar visibilidade às histórias das mulheres que constroem as discussões sobre o cuidado e a preservação das águas brasileiras. Entre os destaques estão Célia Froés, diretora-geral da Agência Peixe Vivo (APV), e Poliana Valgas, secretária de municipal de Meio Ambiente e Saneamento de Jequitibá e presidenta do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), Comitê atendido pela APV. Clique aqui e confira o e-book.
Quem vai às reuniões plenárias ou de câmaras técnicas de Comitês de Bacias Hidrográficas (CBHs) se depara com uma importante presença de mulheres interessadas em discutir usos e preservação das águas. No entanto, é incomum vê-las em cargos de direção, gestão e tomadas de decisão nesses mesmos espaços. Isso não é exclusividade de CBHs, mas eles são espelho do que acontece em diversas áreas da sociedade civil. Qual seria a razão disso?
O segundo volume do livro “Mulheres pelas águas” reúne textos de 50 mulheres atuantes nas discussões da gestão das águas do planeta, seja no campo acadêmico, da prática diária ou de ambos – dentre elas o depoimento da diretora-geral da APV, Célia Froés. Natural de Bocaiúva, Célia conta que a preocupação com a disponibilidade de água esteve sempre presente em sua vida, desde a infância, passando por sua gestão no Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) até chegar à construção da Peixe Vivo.
No livro, ela conta os desafios de ser a única mulher na direção de agência de bacia no Brasil. Em entrevista, destacou o orgulho de pertencer a uma entidade delegatária cuja maioria diretiva é composta por mulheres e reafirmou sua convicção de mulher otimista. “Eu tenho uma história de vida entrelaçada com a água. Nasci em Bocaiúva, no semiárido de Minas Gerais. Convivia com longos períodos de estiagem, e minha mãe, minhas tias, sempre nos educaram no sentido de cuidar e preservar as águas das quais dependíamos. Isso me deu a consciência de que precisamos ser gestores natos quando falamos sobre a água. Com todas as dificuldades que passamos no nosso país, eu sou otimista. Entendo que, com o tempo, com a mudança cultural, as mentes vão se abrindo para novas realidades, para o valor que a água tem.”
Além de Célia, a presidenta do CBH Rio das Velhas, Poliana Valgas também conta sua história no segundo volume da publicação. Primeira mulher a ocupar o cargo mais alto do Comitê, Poliana foi convidada a contribuir na construção coletiva do livro no lançamento do primeiro volume, em novembro de 2021, na cidade de Belo Horizonte, e registrou em palavras sua trajetória na gestão das águas da bacia do Rio das Velhas – desde as travessias para visitar os avós na outra margem do Velhas, até a eleição para presidenta do Comitê que trabalha em prol desse mesmo rio.
Célia Fróes e Poliana Valgas participaram da publicação e falaram sobre suas trajetórias
“Espero que a minha história inspire outras mulheres a seguir nesse caminho da luta pela água ou em qualquer outra área, e desejo que esse caminho que eu abri permaneça aberto para aquelas que virão depois de mim. Hoje os comitês de bacias são compostos, na média, por 30% de mulheres, e, olhando para os cargos diretivos, o número é ainda menor – alguns comitês nunca tiveram mulheres como presidentas. Mesmo no caso do CBH Rio das Velhas, eu sou a primeira”, relembrou Poliana.
Ela acredita também que as mulheres necessitam se capacitar mais para que sejam ouvidas, não porque elas não tenham o conhecimento, mas sim para poderem sustentar seus pareceres perante os homens que, em sua maioria, ainda ocupam os cargos de tomada de decisão. “Historicamente as mulheres estão mais ligadas às águas do que os homens. A imagem da mulher com ‘lata d’água na cabeça’, levando água para os filhos, para manter a casa, remonta a essa ligação. Por isso é importante que as mulheres retornem a ter espaço nas decisões sobre a gestão das águas. Além disso, precisamos buscar mais capacitação para que nossa voz seja mais ouvida. Temos capacidade de estar nos espaços de decisão! Não podemos arredar o pé. Precisamos ficar firmes e seguir em frente no caminho que acreditamos, como os homens sempre fizeram”, completou.
Talentos: Mulheres pela água
O livro “Mulheres pela água”, agora no segundo volume, é editado pela Rede Brasil de Organismos de Bacias Hidrográficas (REBOB) e conta com a organização de Fernanda Matos, pesquisadora na UFMG, professora do CEFET e editora/colaboradora na seção REBOB Mulher. Fernanda conta que, além do livro, foi lançada também, na mesma ocasião, a plataforma “Talentos: Mulheres pela água”, em que se pode encontrar mulheres especialistas em diversos assuntos referentes à gestão das águas. “Incomoda ir a eventos em que apenas homens falam, como se não houvesse nenhuma mulher que tivesse conhecimento daquele determinado assunto. Nesse sentido, lançamos também essa plataforma em que as mulheres podem se cadastrar, colocando seus temas de interesse ligados à água. O portal será utilizado como referência de busca de mulheres especialistas nos mais diversos assuntos”, conta Fernanda.
Publicação contou com a organização da professora, pesquisadora e editora, Fernanda Matos
Ela também destacou a importância do lançamento tanto da plataforma quanto do livro no evento. Para ela, “o Encob reúne uma série de atores nacionais, de vários segmentos. Este ano, especialmente, tivemos a presença de muitos jovens. Isso garante a visibilidade da discussão entre diferentes gerações”, finalizou.
Texto: Comunicação Agência Peixe Vivo e
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Fotos: Leonardo Ramos; Fernanda Matos – Arquivo Pessoal