O município de Guaraciama, localizado no norte de Minas Gerais, na região do Alto São Francisco, é uma das localidades onde o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco – CBHSF está implantando obras de melhoria hidroambiental. O objetivo é aumentar a qualidade e quantidade da água na bacia do rio das Pedras e Córrego Buritis, afluentes do Velho Chico e principais fontes de abastecimento de água do município.
Com os recursos originários da cobrança pelo uso da água na bacia do São Francisco, o CBHSF, por intermédio de sua agência delegatária, a Agência Peixe Vivo, destinou o valor de R$530 mil para a execução da obra, que envolveu a construção de barraginhas para a captação de água da chuva; cercamento de margens e nascentes , para preservação ambiental e a adequação das estradas, com vistas a melhorar a drenagem das águas da chuva e assim diminuir o assoreamento dos cursos d´água.
Além disso, o projeto envolve ações de mobilização social, com o intuito de transmitir, por meio de reuniões socioeducativas com as comunidades locais, a importância da conservação do meio ambiente para a região.
Com graves problemas de escassez de água, Guaraciama possui uma população de aproximadamente 5 mil pessoas, que vivem praticamente da agricultura de subsistência (plantio do milho, mandioca, feijão) e da criação de gado.
A população rural do município utiliza a água do rio das Pedras e do Córrego Buritis para consumo próprio, em usos domésticos, como também na lavoura e para a dessedentação animal. O produtor rural José de Assis Carvalho, mais conhecido como ‘Lelé’, diz que a água é extremamente necessária, de vital importância para a região. “Sem ela não podemos viver”.
Ele conta que os moradores já começaram a colher os bons frutos das intervenções que estão sendo feitas. “O rio Buritis secava todo ano, hoje, não seca mais. A melhora foi de mais de 100%. Esse projeto está sendo bom demais para nós”, afirmou ‘Lelé’, que teve barraginhas construídas em sua propriedade.
Com 80% dos serviços finalizados, cerca de 200 famílias serão beneficiadas de algum modo com a implantação do projeto no município. É o caso do agricultor Geraldo Cardoso Santana. Devido às obras, ele conseguiu trabalho temporário de cercador de nascentes. “Com essa atividade, estou conseguindo levantar a minha casa. Antes tinha que ir para o sul de Minas para conseguir algum serviço bom”, disse.
Outro favorecido com o projeto foi o criador de gado José Maria Duarte. “Essas barraginhas que foram feitas estão sendo muito úteis para o gado”, comentou José Maria, acrescentando que a estrada que passa em frente à sua residência, antes intransitável, melhorou significativamente, contribuindo para a locomoção do produtor e sua família. “Quando chovia ficava impossível sair de casa. Melhorou muito. Agora está boa e conservada”, afirmou.
Com o término dos trabalhos, previsto para março de 2013, o CBHSF espera que além do saldo das intervenções técnicas, a comunidade construa um pensamento proativo em relação á preservação da água, do meio ambiente e do rio São Francisco.
O depoimento de José de Assis Carvalho traduz o efeito das intervenções, tanto para o meio ambiente como para a consciência ambiental. Com o cercamento das nascentes, conta, “o gado não entra mais aqui”. Em relação à conservação, ele se declara convencido da necessidade de mudança de postura: “Precisamos nos conscientizar e conservar o meio ambiente”.
Oeste da Bahia também está sendo beneficiado
Conforme decisão aprovada em reunião plenária, o Comitê estabeleceu inicialmente a implantação de 22 projetos hidroambientais ao longo de rios e córregos da bacia hidrográfica do rio São Francisco. Os projetos são similares ao que atualmente está sendo desenvolvido em Guaraciama (MG) e contemplarão todas as quatro regiões da bacia – Alto, Médio, Submédio e Baixo São Francisco.
Além do município mineiro, outros 13 projetos estão em fase de execução nos estados de Minas Gerais, Bahia, Alagoas e Pernambuco. O município de Cocos, situado no extremo oeste da Bahia, no Médio São Francisco, está recebendo um deles. Em fase inicial, as obras estão sendo realizadas na sub-bacia do rio Itaguari, importante fonte para o fornecimento de água do município.
Por lá, a comunidade local espera por um trabalho bem sucedido e já cobra isso. “O projeto é muito bom, porém deve ser bem feito. O Itaguari é a vida de Cocos. É a nossa menina dos olhos”, declarou a coquense Doralina Trindade Bomfim, que teve a propriedade contemplada com as obras.
A moradora alerta sobre os principais problemas existentes hoje no rio e se diz a favor das obras. “O Itaguari reduziu sua quantidade de água em até 60%. Falta a conscientização da população quanto à educação ambiental. Hoje temos problemas de assoreamento, erosão, desmatamento… Por isso, sou a favor de todos os projetos voltados para o meio ambiente. Daqui a 20 anos o que será do nosso rio?”, indaga.
Para o coordenador da Câmara Consultiva Regional – CCR do Médio São Francisco do CBHSF, Cláudio Pereira, é necessária a participação e contribuição de toda a sociedade para que o resultado seja positivo. “Todos têm que enxergar esse projeto como um projeto pessoal, onde cada um faça a sua parte pelo meio ambiente”, resumiu.
Residente na comunidade onde acontecerão as obras, José de Moura Lima Filho, revela os problemas que a estiagem vem causando. “Tem dois anos que vem secando o córrego que abastece a minha família e o meu gado. A nascente secou mais de 300 metros. Tenho que ir buscar água no Itaguari, que fica muito longe de minha casa. Pelo meu “Manetazinho”, eu dou a vida. O rio está em primeiro lugar”, diz, referindo-se ao afluente do Itaguari, o rio Maneta, também beneficiado com as intervenções.
A previsão é de que ao final dessas 22 obras, o CBHSF implante outros 24 projetos, igualmente voltados para a recuperação e preservação ambiental e viabilizados com os recursos da cobrança pelo uso da água.
Reportagem, fotos e vídeos: Ricardo Coelho
Assessoria de Imprensa do CBHSF