Estudo demonstra que barraginhas plantam água e mudam a realidade do rio Bicudo

10/06/2021 - 9:49

A bacia hidrográfica do rio Bicudo, afluente do Rio das Velhas, em Minas Gerais, é uma das que mais sofre com a escassez hídrica no estado. Um estudo realizado pela coordenadora técnica da Agência Peixe Vivo, Flávia Mendes, constatou que a execução de projetos hidroambientais do tipo bacias de contenção de água da chuva (barraginhas) em localidades rurais da bacia do rio Bicudo, na região do Baixo Rio das Velhas, é capaz de promover reduções nas vazões de pico nos cursos d’água a jusante destas intervenções, e o consequente aumento na infiltração das águas pluviais no solo da bacia hidrográfica.

Flávia Mendes simulou diferentes cenários com o uso do modelo SWAT, após sua adequada calibração e validação para o contexto da bacia hidrográfica em estudo. “Foi empregado o software de modelagem hidrológica Soiland Water Assessment Tool (SWAT) no intuito de investigar a ocorrência de impactos nas vazões da calha do rio Bicudo, decorrentes da instalação de bacias de contenção em sua área de drenagem. O modelo foi construído com base em dados secundários de monitoramento fluviométrico, pluviométrico, e de variáveis climáticas, além da caracterização do uso e ocupação do solo, tipos de solos, relevo, entre outras. Foi realizada a calibração e validação satisfatórias do modelo, em função de aspectos quantitativos das águas no rio Bicudo. Por fim, foram comparados os cenários simulados com a presença e com a ausência das bacias de contenção na área de drenagem da bacia hidrográfica”, afirmou.

Assim, o estudo constatou a eficácia da execução de projetos hidroambientais como as bacias de contenção. “As barraginhas captam as águas das enxurradas e permitem sua lenta infiltração no solo, entre uma chuva e outra, para reabastecer os mananciais subterrâneos, aumentar a permanência da água no solo e promover a revitalização de nascentes na bacia hidrográfica. Outra ação que se espera das barraginhas é a contenção de sedimentos carreados pelas chuvas, diminuindo o assoreamento dos cursos d’água a jusantes dessas intervenções”, esclarece Flávia Mendes.

Desde 2015, o recurso arrecadado com a cobrança pelo uso da água na Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas tem sido investido na execução de barraginhas na bacia do rio Bicudo, para promover a contenção da água das chuvas, fazendo com que ela infiltre no solo e reduzindo o assoreamento dos rios. O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas) aprovou a execução de dois projetos de recuperação hidroambiental na bacia do rio Bicudo, um no ano de 2015 e outro no ano de 2019, totalizando a construção de 678 barraginhas.

O estudo de Flávia Mendes foi apresentado no dia 20 de maio, como defesa de dissertação do Mestrado Profissional em Rede Nacional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos(ProfÁgua), da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), no polo da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI).

“Esperamos que os resultados gerados nesta pesquisa possam contribuir para os gestores de recursos hídricos no desenvolvimento de diretrizes e estratégias para a preservação de recursos hídricos na bacia hidrográfica do rio Bicudo e em bacias com características similares”, finalizou Flávia Mendes.

 

*Texto: Luiza Baggio